...Mas o amor é um sentimento extremamente raro entre as raças velhas e enfraquecidas. Os Romeus, as Julietas (para citar só este casal clássico), já não se repetem, nem são quase possíveis, nas nossas democracias, saturadas de cultura, torturadas pela ânsia do bem-estar, cépticas, portanto egoistas, e movidas por meio do vapor e da electricidade. Mesmo nos crimes de amor, em que parece reviver, com a sua primitiva e dominante força, a paixão das raças novas, se descobrem logo factores lamentavelmente alheios ao amor, sendo os dois principais aqueles que mais caracterizam o nosso tempo, o interesse e a vaidade. Nestas condições o Amor que voltou a ser como na Grécia, um Cupido pequenino e brincalhão, que esvoaça, surripiando aqui e além um prazer fugitivo - é removido para entre os cuidados subalternos do homem, muito para baixo do dinheiro, muito para baixo da política... É uma ocupação, sem malícia o digo, que se deixa para quando acabar o dia verdadeiro e útil, e com ele os negócios, as ideias, os interesses que prendem. Já não há hoje nada de produtivo para fazer? Já não há nada de sério para pensar?... Bem! Então, um pouco de perfume nas mãos e abra-se a porta ao Amor que espera! A isto está reduzida a Vénus fatal e vencedora!
assim disse Eça em 1893 nos seus Temas para Versos
Já sei mais um bocadinho mas continuo indecisa...
sexta-feira, julho 20, 2007
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